O ser humano vem degradando a Natureza desde que dominou a agricultura, porém nas últimas décadas vimos uma intensificação alarmante dessa degradação. Veja nas imagens acima a comparação do território da América do Sul entre os anos de 1985 e 2020.
É visível e assustador o processo de desmatamento e desertificação dos solos. Como será a próxima foto dessa sequência, em 2050, se mantivermos o ritmo de destruição? Quanta biodiversidade será perdida? Quanto CO2 será emitido na atmosfera? E indo um pouco além, imagine agora como será em 2500? Haverá vida na terra se continuarmos nesse ritmo?
Por volta de 1960 iniciou-se o que ficou conhecido como a “Revolução Verde”, o pacote tecnológico de sementes geneticamente modificadas, máquinas extensivas e produtos químicos que de fato revolucionou a agricultura e mudou drasticamente a forma como alimentos são produzidos no mundo.
O problema é que de VERDE essa revolução não tem nada!
A degradação causada no planeta decorrente da exploração predatória dos recursos naturais pela monocultura industrial é alarmante e coloca todos os seres vivos em perigo, especialmente os menos favorecidos economicamente e gerações futuras que sofrerão as consequências do nosso egoísmo.
Essa é a rota do colapso socioambiental: esgotamento da água, dos solos, extinção da biodiversidade e aumento significativo nas emissões de gases de efeito estufa.
Adotarei o nome de Revolução Química para me referir a mudança de hábito de agricultores que causa um efeito de degradação, destruição ou degeneração da vida. Pois, novamente, de verde essa revolução não tem nada.
A boa notícia é que existe solução para esse problema, mas ela não será nada fácil. De um lado é preciso extinguir o desmatamento. De outro, regenerar o que foi perdido.
A agricultura possui papel fundamental nessa solução. Podemos seguir na rota do colapso em que estamos ou mudar drasticamente nossos hábitos para construir um futuro melhor ao regenerar o planeta ao mesmo tempo em que produzimos o necessário para nossa subsistência.
Utilizarei como definição de agricultura regenerativa práticas agrícolas que regeneram o solo, restauram a água, aumentam a biodiversidade e sequestram carbono atmosférico através de seus processos de operação. A forma mais incrível que já conheci é a agricultura sintrópica, ou agricultura de processos de vida, sintetizada e idealizada por Ernst Gotsch, a qual possui um altíssimo impacto na restauração da vida e ecossistemas no lugar. Sistemas agroflorestais são a forma mais inteligente que temos de reflorestar o planeta.
Atualmente o nível de degradação é MUITO maior que o de regeneração. Nossa missão como humanidade deve ser atingir o ponto de inflexão da regeneração, ou seja, passar a regenerar o planeta ao invés de destruí-lo. Essa é a solução para resolver o problema pela causa, e não pelo tratamento tecnológico dos sintomas de uma grave doença. Não existe futuro próspero de longo prazo enquanto o nível de degeneração for maior que o de regeneração. Existe apenas o colapso no fim da linha do trem que estamos todos a bordo.
O resultado de longo prazo dessa mudança será o de restaurar a biodiversidade, ao invés da extinção em massa. Restaurar a água, ao invés da escassez hídrica. Regenerar o solo e trazer segurança alimentar, ao invés da fome. E de dar início ao processo de reversão do aquecimento global!
A VERDADEIRA REVOLUÇÃO VERDE É AGROFLORESTAL
A falácia da fome
Quantas vezes já não te contaram que o agro alimenta o mundo?
Infelizmente isso não é verdade…
A agricultura química se apoia nessa falácia para justificar os danos ambientais causados pela sua produção industrial e engana a população ao alimentar em partes o presente em detrimento do futuro.
É verdade que precisamos alimentar 8 bilhões [1] de pessoas no mundo. E também é verdade que o ganho de produtividade pela tecnologia da revolução química aumentou muito a produção mundial de alimentos.
Porém, globalmente apenas 50% da produção de cereais [2] é destinada para a alimentação humana. E esse número é distorcido pois é muito maior em países mais pobres, e muito menor em grandes exportadores de soja e milho como o Brasil e EUA, com 32% e apenas 11% respectivamente.
Ou seja, no Brasil aproximadamente 2/3 de toda produção de grãos serve para alimentar a fome dos seres humanos de viver em uma dieta a base de carne. A produção brasileira de soja na safra 2021/2022 foi de 123 milhões de toneladas [3]. Considerando a população brasileira de 207,8 milhões de pessoas [4] chegamos no valor de 591 kg de soja por pessoa por ano e 1,62 kg por pessoa POR DIA, isso somente de soja. Eu não conheço ninguém que ficaria com fome depois de comer tudo isso…
Mesmo assim 33,1 milhões de pessoas [5] estão em situação de fome no Brasil e estima-se que 10% do mundo esteja em situação de insegurança alimentar [6].
E a insegurança alimentar está diretamente relacionada com a saúde do solo. Onde há solo fértil, temos abundância de alimentos. Onde há solo degradado, temos insegurança alimentar. Estima-se que 30% dos solos do mundo estão degradados [7] e de acordo com a ONU a cada 5 segundos o mundo perde uma quantidade de solo equivalente a um campo de futebol [8].
A agricultura degenerativa não segue os processos da vida do planeta, busca soluções tecnológicas de curto prazo para a solução dos problemas com severos impactos de longo prazo e é a grande responsável por essa degradação.
O primeiro passo é o desmatamento. Depois iniciam-se os ciclos de produção que envolvem a aração e revolvimento da terra com máquinas, fertilização química, defesa química e colheita. As grandes máquinas que tornam possível o trabalho em extensas áreas compactam o solo, sendo necessária a aração a cada ciclo. E os fertilizantes químicos por mais que aumentem a produtividade geram uma dependência química onde a cada ciclo é necessário um pouco mais para obter o mesmo resultado. E após algumas décadas, advinha? Temos um solo degradado que contribui para a insegurança alimentar.
Já a regenerativa faz exatamente o oposto da química: Torna o solo melhor com o tempo.
É possível regenerar TODOS solos degradados do planeta, inclusive desertos. Quando retiramos os humanos da equação e deixamos um solo em pousio, a Natureza já começa o seu trabalho de regeneração. Se magicamente não houvessem mais seres humanos no planeta, em algumas dezenas, centenas, milhares ou milhões de anos os solos seriam recuperados.
Porém não temos todo esse tempo, e é por isso que devemos acelerar os processos de vida da Natureza. Basta entender como ela funciona e replicar no meio de produção agrícola. Por exemplo o processo da poda que adiciona matéria orgânica no solo acelera o processo natural de perda de folhas e galhos, o qual resulta em fertilidade e regeneração.
Se queremos resolver o problema da fome, temos que regenerar os solos através da agricultura. E para conseguir isso, será necessário quebrar paradigmas da sociedade atual e acabar com a falácia da fome, a qual nos condena para um futuro de insegurança alimentar.
Precisamos mudar essa rota antes que seja tarde demais.
Além disso, quem de fato pode dizer que alimenta o mundo é a AGRICULTURA FAMILIAR.
Água se planta
O Brasil é o país mais rico em água doce do mundo e a maior parte dessa água se concentra na região norte amazônica.
A floresta amazônica existe pois há muita água, ou existe abundância de água pois há floresta?
Como diria o suiço Ernst Gotsch, “água se planta”. Ernst foi pioneiro na agricultura agroflorestal sem irrigação e reflorestou 350 hectares de uma área que antes era dita como “seca”. Após décadas de trabalho, viu a água e a vida rebrotarem em sua fazenda, com a volta de nascentes e microclima diferenciado na região.
A resposta para a pergunta é que a água está lá por causa da floresta, e o motivo é que uma área com vegetação retém e transpira muito mais do que uma área desmatada, como pastos e monoculturas.
Quando chove, as raízes das árvores se alimentam dessa abundância e a retenção de água no solo é grande. Quando faz sol, a cobertura de massa seca no solo e a própria vegetação formam uma barreira que impedem o sol secar rapidamente a água do local. E através da fotossíntese, as plantas transpiram e enviam parte da água acumulada em sua biomassa para a atmosfera. Uma floresta é um grande reservatório natural de água.
Já em um pasto, por exemplo, quando chove a retenção de água é muito baixa, e ela acaba escoando rapidamente. Quando faz sol, rapidamente o calor seca totalmente o local.
Para resolver o problema da escassez hídrica do mundo é fácil: Basta plantar florestas, e muitas!
Globalmente, cerca de 70% da água potável é utilizada na agricultura [9]. E a quantidade de água utilizada cresceu muito desde 1960, desproporcionalmente ao crescimento da população.
Ou seja, a agricultura degenerativa além de desmatar nossas florestas, o que diminui a oferta de água no mundo, ainda é responsável por usar grande parte da água disponível em aquíferos e rios, deixando pouco para abastecer a população.
Não é sustentável um modelo de agricultura que necessita dessa quantidade enorme de água, é preciso mudar a direção.
A agricultura sintrópica e sistemas agroflorestais, técnicas regenerativas de agricultura, oferecem uma solução para esse problema. Ao invés de precisar extensivamente de água, planta-se árvores que contribuem para essa manutenção e reduzem a praticamente zero a necessidade de irrigação externa. Ao invés da irrigação, usa-se os processos da própria natureza para plantar água.
Exterminação em massa
A biodiversidade é um dos bens mais preciosos do Planeta. É incrível ver as tantas e variadas formas de vida, cada uma cumprindo a sua função no macroorganismo em que vivemos.
Não podemos viver em um mundo de humanos, gado, frango, porco e máquinas. Não faz o menor sentido destruir a biodiversidade da maneira que estamos fazendo. Comparado com os níveis de 1970, estima-se que 70% da biodiversidade tenha sido perdida.
Estamos vivendo um processo de extinção em massa. E advinha quem é o principal vilão desse problema?
Basta olhar novamente para as imagens do início para ver a quantidade de ecossistemas e habitats perdidos. Imagina se de um dia para o outro chegasse fogo ou máquinas destruindo todas as casas da região onde mora, você iria gostar? Pois é exatamente isso que está acontecendo com a biodiversidade frente ao desmatamento.
Além disso, os defensivos químicos são venenos aplicados com a intenção de matar a vida do lugar que não seja a cultura desejada. É literalmente usar uma arma química de destruição em massa.
Todas as espécies possuem sua função na Natureza. Aplicar fungicidas, herbicidas, bactericidas ou qualquer outro tipo de defensivo químico é atuar no sintoma de um problema, gerando diversos outros. Imagine só que você é uma lagarta, que adora milho. De repente você olha para o lado e está um milharal de 1000 hectares com somente essa planta. Um banquete, certo?
Não existem pragas, são seres que encontram um ambiente favorável para sua multiplicação e indicam um desequilíbrio ecossistêmico. A solução que resolve o problema pela causa é criar ecossistemas equilibrados favoráveis à vida.
E adivinha uma solução que cria ecossistemas equilibrados e favoráveis a vida ao mesmo tempo em que se produz?
A AGROFLORESTA!
Nunca vou me esquecer da primeira vez que estive em uma, na Fazenda Ouro Fino em Setembro de 2020.
Passei uma semana na fazenda e foi uma experiência incrível. Ver com meus próprios olhos um sistema agroflorestal de mais de 15-20 anos mudou a minha vida. Fez me decidir que esse seria o propósito pelo qual lutaria e se estou hoje liderando o projeto da Sintrop, que visa regenerar o planeta, foi por conta dessa experiência.
Recomendo a todas as pessoas que visitem e vejam uma agrofloresta com os próprios olhos. Pra quem ainda não conseguiu, gravei esse vídeo aqui mostrando por dentro as áreas novas e antigas da Ouro Fino.
Algo que me chamou muito atenção nesses dias foi a quantidade de frutos que encontrávamos no chão. Para mim era contra intuitivo comercialmente “desperdiçar” e perder alimentos no chão da propriedade. Depois de muito tempo fui entender que eram sistemas de abundância, onde o que não alimentava os humanos servia para os animais e microvida do lugar.
Literalmente plantar para os animais, ao invés de exterminá-los.
Como se já não bastasse o desmatamento e aplicação direta de armas químicas, tem um outro grande problema que vale ressaltar: A contaminação da água.
Os fertilizantes e defensivos químicos acabam escoando para a água, a qual segue seu fluxo em direção aos oceanos. O resultado é a contaminação e alteração indireta nos ecossistemas aquáticos. Além de um risco para a nossa própria saúde, os produtos químicos afetam os corais e a vida marítima.
Infelizmente é morte pra tudo quanto é lado…
A máquina de sequestrar carbono
O aquecimento global é o sintoma de uma grave doença do planeta causada pelo modelo econômico vigente e modo de vida da sociedade pós revolução industrial. Estamos interrompendo um ciclo que a natureza leva milhares e milhões de anos para formar a vegetação nativa e reservas de combustíveis fósseis ao queimar tudo em uma minúscula janela de dois séculos. Tudo em defesa do desenvolvimento econômico, que é movido pela ganância e ignorância do ser humano.
As emissões globais de CO2 no ano de 2021 somaram 41,06 bilhões de toneladas [10]. Isso é MUITA, mas MUITA coisa. Estima-se que a agricultura é responsável por 1/4 dessas emissões [11].
Os efeitos de longo prazo dessas emissões são assustadores. E não podemos pensar que é algo para o futuro, pois já estamos sendo afetados hoje: secas, chuvas excessivas, calor extremo, aumento do nível do mar, calor no inverno, frio no verão, queimadas e diversos outros impactos. Ninguém está a salvo das consequências e novamente os menos favorecidos economicamente e gerações futuras são quem mais sofrerão.
Teoricamente a resolução do problema é fácil, na prática não. Por um lado é preciso zerar as emissões. Por outro, sequestrar o que já foi emitido. Para zerar as emissões não existe outra alternativa se não manter o petróleo e outros combustíveis fósseis de baixo da terra e mudar completamente nosso modo de vida e todos os setores da economia. Mas esse será assunto para um outro artigo, por enquanto focaremos no segundo ponto, o de sequestrar o que já foi emitido.
Para sequestrar carbono atmosférico, é preciso removê-lo do ar e estocá-lo de alguma forma. Existem projetos que almejam usar a tecnologia para fazer esse trabalho. Torço muito para que eles deem certo, pois o cenário atual não é bom e vamos precisar sim de muita tecnologia. Mas, novamente, é atuar no sintoma e não na causa do problema.
Já existe uma máquina ancestral que sequestra carbono: A NATUREZA!
Através do processo de fotossíntese na presença de luz, plantas transformam gás carbônico em energia e oxigênio. Essa é a verdadeira máquina que já conhecemos que pode nos salvar do aquecimento global.
Estima-se que a área mundial utilizada para agricultura seja de 5 bilhões de hectares. Desse total, aproximadamente 1400 milhões são usados para cultivos anuais, 3475 milhões para pastagens e 135 milhões para cultivos permanentes [12].
Dos 41,06 bilhões de toneladas de CO2 emitidos, aproximadamente 10 bilhões é responsabilidade da agricultura. O que nos leva ao resultado de uma média global de 2 toneladas emitidas por hectare.
Para neutralizar as emissões anuais, será necessário que a média seja de 8,8 toneladas SEQUESTRADAS por hectare.
É sair de +2t para -8,8t de CO2 por hectare.
Sistemas agroflorestais sucessionais bem manejados são capazes de sequestrar 40, 50, 60, 70 toneladas de CO2/ha/ano e até mais. A pecuária regenerativa é capaz de sequestrar mais de 20 toneladas de CO2/ha/ano e o cultivo regenerativo de grãos pode sequestrar mais de 2 toneladas CO2/ha/ano.
Se os 135 hectares de cultivos permanentes virarem agrofloresta, sequestrando uma média de 60 toneladas, sequestraríamos 8,1 bilhões de toneladas de CO2/ano. Se metade dos pastos integrassem floresta, com um sequestro médio de 20 toneladas por hectare/ano, seriam mais 34,750 bilhões de toneladas. Essa combinação seria suficiente para neutralizar as emissões anuais e um aumento ainda maior poderia compensar a enorme quantidade que já foi emitida.
Ou seja, quando tornarmos a agricultura regenerativa o padrão da nossa produção de alimentos, estaremos na rota de reversão do aquecimento global!
Eu sei que é uma tarefa assustadoramente grande, dita como impossível pela maioria das pessoas e que será um processo de décadas. Mas basta uma mudança de paradigmas para tornar esse modo de produção regenerativo como o padrão da sociedade para tornar esse sonho distante possível.
É preciso criar ecossistemas que sigam o fluxo natural da vida ao mesmo tempo que sequestram esse carbono e produzem alimentos para a população.
Se a Revolução Química conseguiu mudar o padrão da sociedade em algumas décadas, a verdadeira Revolução Verde também pode fazer o mesmo.
Mas e o dinheiro?
Pois é caro leitor, esse é um ponto chave dessa revolução. Infelizmente hoje nossa sociedade é movida pelo interesse econômico e não podemos deixar ele de lado.
O agronegócio degenerativo e o desmatamento existem pois alguns ganham dinheiro com ele. Mas somente ganham pois o custo do impacto ambiental não entra na conta. Deveríamos taxar esse impacto, mas é algo que demorará muito ainda para acontecer pois o poder público está dominado por ruralistas químicos. Infelizmente é triste de ver que subsídios governamentais ainda incentivem e beneficiem a agricultura industrial química ao invés da agroecologia.
Se colocássemos esse impacto no preço dos alimentos e produtos, não faria mais sentido produzir destruindo o planeta. Porém na realidade não é assim que funciona e quem paga essa conta é a Natureza, e por consequência TODOS os seres humanos, sem exceção. Afinal somos parte dela…
Mas e se a agricultura regenerativa fosse mais lucrativa?
A monocultura industrial visa a maximização dos lucros e olha para uma variável apenas: a área!
Os custos fixos de máquinas, juros e insumos são altos e para o negócio fazer sentido é preciso de uma área muito grande. Depois disso o processo fica mecanizado. Hoje em dia é fácil plantar soja em uma área enorme, diluindo o custo fixo por hectare e fazendo com que seja um modelo de negócio atraente que necessita de mais área para crescer. (E advinha de onde vem essa terra? Das florestas 🙁 )
A agricultura sintrópica e agroflorestas sucessionais, ao invés de olhar apenas para a área, olha para três variáveis: a área, o espaço e o tempo!
O espaço pois trabalha com o princípio da estratificação, no qual plantas com necessidade de luz distintas podem ocupar “andares” diferentes dentro de um mesmo espaço. Portanto, ao invés da monocultura, planta-se junto espécies distintas que gostem de quantidades de luz distintas, de forma a uma fazer sombra para a outra e resultando em uma quantidade muito maior de plantas por área.
E o tempo pois une a estratificação com o ciclo de vida das plantas, onde espécies de estágios distintos possam prosperar, produzir e dar o seu lugar para outras de ciclo mais longo avançarem, funcionando como criadoras das plantas mais exigentes que precisam de um ambiente melhor e demoram mais para crescer.
O resultado é que a produtividade por área é MUITO maior. Primeiro pois cria um ambiente favorável a cultura principal do plantio, segundo pois as outras espécies também produzem e geram receita. Uma agrofloresta bem manejada pode produzir mais de 60 toneladas por hectare/ano. Para efeito de comparação um monocultivo de soja não passa de 8 toneladas por hectare/ano.
Portanto plantar agrofloresta é muito mais produtivo por área do que a monocultura. O problema está na escala, é aí que o jogo vira.
É muito difícil e requer muito trabalho plantar e manejar uma floresta. São poucas as agroflorestas com mais de 20 hectares. E a monocultura não, só seguir uma receita de bolo e voilá, milhares de hectares concentrados na mão de um “agricultor” que nem encosta suas mãos na terra…
Para diminuir essa diferença a mecanização possui papel fundamental. Porém uma mecanização diferente, focada em equipamentos de pequeno porte que não compactem o solo. Todas as fabricantes deveriam ter um setor dedicado para essa área.
Mas será que essa dificuldade é necessariamente ruim?
O Brasil possui uma história que contribuiu muito para a concentração de terras. Poucos latifúndios dominam esse poder e concentram milhões de hectares. Reforma agrária, seja ela pública ou privada, é algo essencial nessa missão. Mas esse também será assunto para outro post.
Estima-se que o mundo possua mais de 2 bilhões de hectares degradados. Se cada família recuperasse 2 hectares, teríamos 1 bilhão de famílias trabalhando em harmonia com a Natureza em um mundo socialmente mais justo e ambientalmente sustentável.
Uma forma alternativa de tornar a agricultura regenerativa mais atraente financeiramente, já que não conseguimos taxar o prejuízo, é REMUNERAR produtores regenerativos com um prêmio verde pelo serviço ambiental ecossistêmico prestado para a sociedade. Quem planta uma floresta, está prestando um serviço para todos os cidadãos do Planeta e deve ser recompensado por isso.
É exatamente esse problema que almejamos resolver na Sintrop. Estamos desenvolvendo com a tecnologia da blockchain, de forma descentralizada e com dados públicos, o token Crédito de Regeneração, o qual será distribuído algoritimicamente por Smart Contracts para produtores rurais de acordo com seu nível de regeneração da vida.
Mas esse também será assunto para outro post. Porém estamos buscando produtores regenerativos para participar do primeiro teste de operação do Sistema, caso algum tenha interesse basta entrar em contato conosco.
Eu acredito, e você?
Agora já sabemos o que precisa ser feito e onde temos que chegar para reverter o aquecimento global, acabar com a fome, restaurar a água e reverter o processo de extinção em massa que estamos vivendo.
Tornar a agricultura regenerativa o padrão da nossa sociedade é o caminho para a salvação da humanidade.
Entendo que essa missão possa parecer loucura ou impossível para boa parte das pessoas que vivem atualmente. Mas EU ACREDITO que iremos conseguir. Acredito que existirá um futuro onde todos os setores da nossa vida caminharão em harmonia com a Natureza, de forma cíclica e sustentável.
Acredito que existirá um futuro no qual toda produção agrícola será Regenerativa. Onde produzir degradando o Planeta seja tão absurdo quanto a escravidão. Onde todas as pessoas tenham consciência ambiental e que, mesmo que alguém produzisse degradando, ninguém comprasse.
Temos que mudar antes que seja tarde demais. Mas será um processo que levará décadas…
Nós duvidamos da capacidade de mudança e conscientização da população existente, mas subestimamos o quão rápido nossa sociedade muda ao longo dos séculos com o passar das gerações.
Educação ambiental para crianças é a nossa maior arma nessa luta. Se mudar e conscientizar adultos é mais difícil, eduquemos nossas crianças. Quanto mais velha, mais resistente a pessoa se torna a novos hábitos e mais enraizada ela está nas suas próprias crenças e mentiras.
Eu sou uma pessoa que viveu boa parte da vida com pouca consciência ambiental. Mas tive o meu momento de despertar e hoje busco consumir alimentos de forma consciente.
Não é algo binário, do tipo “ou você é parte do problema ou da solução”. Todos somos partes do problema e possuímos um nível de impacto com nossa alimentação. O que importa é a direção que estamos indo. O que importa é o meu “eu” do futuro ter um impacto menor do que tenho hoje. E saber que hoje tenho um impacto muito menor do que anos atrás.
Alguns hábitos são mais fáceis, outros mais difíceis. Particularmente vejo que a maior dificuldade está nos momentos em que estamos fora de nossas casas. Dentro de casa é mais fácil e se você não souber por onde começar, procure por produtores locais e compre produtos produzidos sem veneno.
Não podemos esperar de braços cruzados que o governo ou qualquer outro grupo de pessoas resolvam o problema por nós. Devemos assumir a responsabilidade de nossas ações!
Nosso único inimigo nessa luta é o próprio espelho, aquele que nos mostra quem somos e o que fazemos.
Toda vez que comprar algum alimento, se pergunte: Este produto está contribuindo para a regeneração ou degradação do Planeta?
Também não devemos julgar uns aos outros, somente cada um conhece a realidade em que vive. Mas se todas as pessoas que possuem mais do que o básico para sobreviver, criarem consciência sobre o problema e caminharem no sentido da regeneração, independente de ainda estarem de alguma forma atreladas a agricultura química, estaremos no caminho certo.
E lembre-se, o seu espelho sabe qual a direção que você está indo. Em algum momento, todos nós retornaremos para a Natureza, e levaremos conosco a marca que deixamos no mundo.
Não é o planeta que está em risco, somos nós os seres humanos que estamos.
A agricultura vai destruir, ou salvar a humanidade. Para qual lado você vai?
——————————————- FIM ————————————————-
Agradecimento
Espero que tenha gostado, esse foi o primeiro artigo do meu blog. Obrigado pela companhia!
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Abaixo listo as referências e origem dos números utilizados.
Nos vemos no próximo artigo 😉
Referências
[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Popula%C3%A7%C3%A3o_mundial
[2] https://ourworldindata.org/grapher/cereal-allocation-by-country
[3] https://www.embrapa.br/soja/cultivos/soja1/dados-economicos
[4] https://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil
[6] https://news.un.org/pt/story/2022/07/1794722
[8] https://news.un.org/pt/story/2019/12/1696801
[9] https://ourworldindata.org/water-use-stress
[10] https://ourworldindata.org/explorers/co2
[11] https://ourworldindata.org/food-ghg-emissions
[12] https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/160161/1/Producao-agricola-mundial.pdf
[13] https://rizomaagro.com/wp-content/uploads/2022/05/RIZOMA_AGRO_RELATORIO_DE_IMPACTO_2022.pdf
Quantas informações relevantes! Percebe-se seu entusiasmo e dá para imaginar como a Sintrop poderá contribuir e muito para a harmonia do ser humano com a natureza. Chamou muito minha atenção a ideia de remunerar os produtores regenerativos. Nada mais justo.